segunda-feira, janeiro 26, 2009

a rapariga das tangerinas e o rapaz que trazia o mar nos olhos

Uma energia quase infantil ocupava todo o espaço, dentro e fora... Depois daquelas crianças que trazem a vida nas mãos. Mais um final de tarde em que é bom sentir aquele frio nas maçãs do rosto, aquela caminhada, mais uma, até à estação de comboios. Mas neste dia, desta vez, sem dúvidas, avanço até à 1ª carruagem, onde nunca vou... Não há mais caminho a percorrer, cheguei! E lá está ele... Sentado. De olhos postos em mim! Como se o mar me engolisse… Eu com a tangerina nas mãos, o cheiro, o sabor, na boca nos lábios, ele nos olhos... Desconhecido... O sorriso no canto dos lábios! Mais um gomo de tangerina, o trajecto dos dedos finos e, agora, nervosos, até ao sabor ansioso, como o que invade, o desejo... Dúvidas? Um não querer que se confunde com um querer demais... A voz! Que treme nas mãos... Os nomes, o riso inseguro de menina mulher… Parece que se renasce! Como uma bola de fogo que nos percorre! Mas… De repente… O cheiro cítrico já não existe assim como quando o mar se deixa consumir pela areia… Os olhos recuam, as mãos também! O rapaz já não traz na vontade o mar… O sorriso petrifica… A garganta seca… Regresso a casa… e ninguém à espera…