As notícias me sobressaltam. Dia a dia cada vez mais terríveis. Brotam da terra pelos poros entram pela janela em silvos ásperos fazem pilha no chão em letras tortas caem das nuvens em mortalhas. E já são outras realidades apostas ao retoque dos memorandos às interpretações da ribalta ao sortilégio da casa dos contos ao ruminar dos bois — fuga e refúgio. Em confronto são dúbias precipitam-se acotovelam-se em contramarcha se repelem. Na deturpação do humano anunciam com alvoroço através de pinças de fogo em cartazes de gelo — o suicídio da multidão em nome de Deus — o império do vício em nome da Arte — o sequestro do juiz em prol da Justiça — o arremesso de touros em via pública para a alegria dos que se salvam.
Recuso-me a acreditar nas notícias mas elas se impõem de cátedra com implacável desfaçatez talvez para convencer-nos de que somos todos culpados. Agem assim como tóxicos impunemente sorvidos nas delongas do tédio. A busca de notícias é um mórbido caminhar para a cruz Sem embargo as procuro com empenho na expectativa tantas vezes vã de que à noite se mudem na reparação no contraveneno das notícias colhidas pela manhã.
Henriqueta Lisboa (1901-1985), poeta mineira considerada pela crítica um dos grandes nomes da lírica modernista, dedicou-se à poesia, ensaios e traduções (…)
2 comentários:
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O vazio do horizonte
No vazio da alma
De sonhos vazios...
O vazio do tempo
O vazio das palavras
O vazio do pensamento...
O olhar vago
Perdido no lamento
De um lugar vazio
Um copo vazio
No vazio da madrugada
E permanece vazio
O lugar
Que olhei vezes sem conta
O vazio de ti…"....besos besos mas besos.
Em sobressalto
de Henriqueta Lisboa
As notícias me sobressaltam. Dia a dia
cada vez mais terríveis.
Brotam da terra pelos poros
entram pela janela em silvos ásperos
fazem pilha no chão em letras tortas
caem das nuvens em mortalhas.
E já são outras realidades apostas
ao retoque dos memorandos
às interpretações da ribalta
ao sortilégio da casa dos contos
ao ruminar dos bois — fuga e refúgio.
Em confronto são dúbias
precipitam-se acotovelam-se
em contramarcha se repelem.
Na deturpação do humano
anunciam com alvoroço
através de pinças de fogo
em cartazes de gelo
— o suicídio da multidão em nome de Deus
— o império do vício em nome da Arte
— o sequestro do juiz em prol da Justiça
— o arremesso de touros em via pública
para a alegria dos que se salvam.
Recuso-me a acreditar nas notícias
mas elas se impõem de cátedra
com implacável desfaçatez
talvez para convencer-nos
de que somos todos culpados.
Agem assim como tóxicos
impunemente sorvidos
nas delongas do tédio.
A busca de notícias é um mórbido
caminhar para a cruz
Sem embargo as procuro com empenho
na expectativa tantas vezes vã
de que à noite se mudem
na reparação no contraveneno
das notícias colhidas pela manhã.
Henriqueta Lisboa (1901-1985), poeta mineira
considerada pela crítica
um dos grandes nomes da lírica modernista,
dedicou-se à poesia, ensaios e traduções (…)
besos mil...
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